Ministro do Evangelho

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segunda-feira, 14 de junho de 2010

O DRAMA DE URIAS!

Gosto muito de observar as histórias bíblicas. Sedução, vingança, amizade, heroísmo e traição permeiam muitas narrativas do Antigo Testamento. A história do soldado Urias, marido da famosa Betseba, me chama a atenção. Infelizmente, na maioria dos relatos, Urias consta como um personagem coadjuvante. Mas, ele é importante, pois sua vida foi tragicamente descartada em uma trama bem complexa.

Urias foi assassinado para que o rei Davi livrasse a ‘cara’ em um adultério estúpido. A história desse homicídio deve ser considerada uma das mais sórdidas conspirações já escritas na literatura.

A narrativa é bem conhecida. Em uma tarde qualquer, Davi passeava pelo terraço do palácio quando seus olhos contemplaram uma belíssima mulher tomando banho. A pele morena, os cabelos negros, os seios bem delineados, somaram-se ao entardecer para criar um clima sedutor. E Davi não resistiu. Ordenou que lhe trouxessem a mulher para uma noite de delícias.

Alguém com um mínimo de bom senso deve ter alertado: “Esta não, ela tem marido”. Mas Urias estava longe; dava para enganá-lo sem grandes problemas. No campo de batalha, ele nunca suspeitaria da Majestade. Seduzido Davi estava e seduzido continuou.

Mesmo sabendo que poderia dar errado, o romance se consumou e aconteceu o pior: Betseba engravidou. Procurando encobrir o malfeito, Davi mandou trazer Urias para uma conversa. A gravidez ainda precoce talvez ficasse eclipsada diante da libido vertiginosa de um soldado. Davi imaginou que Urias perderia as contas do número de relações sexuais e dos meses que faltavam até o nascimento da criança.

Mas Urias recusou a oferta do rei; não dava para cogitar o prazer enquanto a Arca do Concerto, a honra de Israel e a dignidade do reinado dependessem dos inimigos.

Encurralado, o rei armou um plano sórdido - sordidez, geralmente, nasce de mentes encurraladas. Davi devolveu Urias para front. O general recebeu ordens específicas para recuar no ardor da batalha. O objetivo era claro, expor Urias; deixá-lo vulnerável, indefeso.

Aconteceu como previsto. A lança do inimigo o abateu. Morto o soldado Urias, o rei podia casar-se, assumir o filho e tocar os negócios da corte sem ser incriminado.

Imagino o desespero de Urias quando as tropas recuavam. Ele deve ter se desesperado: “Por quê? Por quê?”. Penso também no comandante que gritou a ordem de voltar atrás. Para defender o cargo, para mostrar lealdade militar, para não quebrar a hierarquia, ele sacrificava o amigo.

Muitas vezes senti a dor de Urias dentro das Igrejas que pastoreei. Eu também fui incentivado a marchar para me ver sem amigos.

Mobilizado por companheiros de ideais, também dei a cara a bater para depois ficar sozinho. Dói, insisto, notar que os golpes se multiplicaram e não ter com quem dividir o sofrimento.

É ruim olhar ao redor e ver os amigos de costas. Urias recebeu o baque e agonizou sem entender nada. Estou certo que sua maior dor não veio da arma inimiga, mas de não compreender a razão de seus companheiros agirem daquela maneira. Urias não conseguia atinar: havia interesses mais elevados; sua vida precisava ser gasta para preservar a reputação do rei.

Contudo, mesmo que alguém lhe contasse o que acontecia nos bastidores, não aliviaria o sofrimento. Não é fácil perceber que antigas lealdades têm que ser jogadas fora em nome de projetos institucionais.

Pobre Urias, sua morte trágica revelou a bestialidade do rei, o servilismo dos soldados e a banalidade da vida.

Não era para ser assim, mas foi... Fazer o que?



Nele,
Que não nos abandona, como os que se dizem amigos!



Pr. Hiram Filho

Fortaleza
Ceará

14/06/10