Ministro do Evangelho

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sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

UM ANO SEM SAUDADE!

2020 foi-se e com ele, lágrimas doloridas. Em toda a minha história de vida, já chorei muito. Pelo ofício sacerdotal, acompanhei pessoas queridas rumo ao cemitério. Sepultei pessoas das quais jamais me esquecerei.

Verti lágrimas por escolhas desastrosas e impensadas. Nessas horas, enquanto escorriam por minha face, provei o gosto salgado de tolices que eram só minhas. Também sofri, angustiado, com decisões açodadas de uma juventude sem Deus. Findei o último dia de vários anos com um soluço travado na garganta.

2020 foi único. Dele, guardo uma dor assombrosa. Não sou ingrato. Tenho o que celebrar. Todavia, poucos anos acabaram tão devedores, com a coluna dos déficits sobrecarregada com ‘ais’. Despeço-me dele sem saudade.

As lágrimas de 2020 foram corrosivas, ácidas, acres. Chorar convulsivamente me revelou o quanto pesam os pingos que brotam de dentro da gente. Quando lamentos nascem nos porões profundos da alma, remorder choros inconsoláveis e discernir perdas incontornáveis tornam-se parte de nós mesmos.

Minha agonia teve um único benefício: me ajudar a seguir adiante sem armaduras, sem couraças, sem fantasias. Aprendi em 2020 o sentido das expressões “traspassado”, “afligido”, “esmagado”.

Quem atravessa o vale da sombra da morte perde o direito de se sentir orgulhoso.

Em um ano a humanidade foi revirada por dentro. Uma pandemia assustadora levou pessoas de todas as línguas, povos e nações. De todos os lugares, há pessoas conhecidas que se foram. O distanciamento de pessoas queridas tornam os dias pesarosos.

Minha esperança virou simples teimosia. De repente, deparei-me velejando no rio da impermanência sem a veleidade típica dos conquistadores. Sei que meu teto é de vidro e as paredes da minha casa são de giz. Inauguro um novo ano. Piso, entretanto, o palco da existência com mais delicadeza.

Quem lê, entenda!